Entenda Como os Medicamentos Funcionam no Tratamento da Obesidade

Entenda Como os Medicamentos Funcionam no Tratamento da Obesidade

À medida que a obesidade avança como um tsunami por todo mundo, trazendo uma onda devastadora de doenças inflamatórias que debilitam e roubam de nós bons anos de vida, como a diabetes, a hipertensão e o câncer, a ciência dispara numa corrida paralela para desenvolver uma pílula, injeção ou chip que consiga deter essa “destruição”.

Complexidade da Fisiologia Humana e Obesidade

Assim tem acontecido há muitas décadas, com estreias pomposas de soluções promissoras, que muitas vezes, desaparecem rapidamente pelo elevado risco dos temidos efeitos colaterais, como aconteceu com as anfetaminas. E por que tem sido tão difícil encontrar um tratamento para obesidade? Porque diferentemente da relação direta entre resistência à insulina e a origem do Diabetes mellitus tipo 2, ou da tensão aumentada na parede dos vasos com os níveis pressóricos elevados que observamos na Hipertensão arterial, não há uma única alteração na fisiologia humana que isoladamente justifique a obesidade.

Obesidade, a epidemia do século XXI é resultado de uma interação entre a predisposição genética, os hábitos individuais e o ambiente moderno, onde o ser humano sobrecarregado e estressado, regula as emoções através de prazeres momentâneos como a comida e o consumo de bebidas alcóolicas, movimenta-se cada vez menos e consome cada vez mais calorias em embalagens “econômicas” de alimentos ultraprocessados.

A Contribuição dos Medicamentos Antiobesidade

Desta forma, não é difícil imaginar que um caminho mais curto para tratamento de uma doença tão complexa, é uma missão quase impossível. Apesar disto, grandes avanços foram realizados nos últimos 5 anos com a chegada ao mercado de medicamentos capazes de induzir uma perda de peso superior a 10% do peso corporal sem efeitos adversos importantes, e até com impacto positivo no controle de outras doenças como o diabetes, a insuficiência cardíaca e doença renal crônica.

Medicamentos antiobesidade atuam geralmente inibindo o apetite, através de ação direta no centro regulador da fome, uma pequena região cerebral conhecida como hipotálamo, como a associação bupropiona + naltrexone, aprovada este ano no Brasil para tratamento da obesidade. A bupropiona, um antidepressivo que aumenta a disponibilidade de endorfinas no sistema nervoso central, notória por diminuir a “fissura” nos pacientes que estão tentando parar de fumar, ajuda também a controlar o impulso de buscar o alimento por prazer, mas sozinha não era capaz de induzir a perda de peso, porém  quando associada ao naltrexone, um antagonista opioide, que bloqueia a ação destas endorfinas liberadas em receptores que aumentariam a fome, conseguem de fato reduzir a ingestão de alimentos contribuindo para perda de peso.

A “bola da vez”no tratamento da obesidade, no entanto, são os medicamentos que “imitam” a ação dos chamados hormônios incretínicos, substâncias sintetizadas e liberadas pelo trato gastrointestinal quando nos alimentamos, para estimular a secreção de insulina pelo pâncreas e assim promover a utilização da glicose que está sendo absorvida. Mas além do efeito no controle glicêmico, esses hormônios, especialmente o GLP-1 (peptídeo semlhante ao glucagon) e o GIP (polipeptideo insulinotropico glicose-dependente) atuam promovendo a saciedade, tanto através de uma ação direta, aumentando o tempo de permanência do alimento no estômago, quanto através de uma ação inibitória no hipotálamo, o centro regulador da fome. Por essas razões as “famosas canetinhas”, saxenda, ozempic, wegovy, mounjaro, realmente provaram ser eficazes em reduzir uma perda de peso importante, em alguns casos com resultados semelhantes aos alcançados pela cirurgia bariátrica.

Limitações e Perspectivas dos Medicamentos Antiobesidade

Então vamos abrir o champanhe? Calma! Apesar do perfil seguro e eficaz dos novos medicamentos, e do entusiasmo da comunidade científica, precisamos lembrar que todos os estudos mostraram que os pacientes voltam a ganhar peso quando o tratamento é interrompido, e até o momento ainda não temos dados para uso por tempo superior a quatro anos. Mas antes que você diga, tudo bem, em breve eles vão demonstrar que podemos usar por muito mais tempo, vamos pensar juntos: Por que os pacientes voltam a ganhar peso quando interrompem o tratamento? O que podemos verdadeiramente modificar naquela intrincada relação entre vida moderna, sedentarismo, estresse e comer emocional?

… Estilo de vida passou pela sua mente?

Fonte:

Muller TD et al. Anti-obesity drug discovery: advances and challenges. Nature revIews. vol 21. 2022 . https://doi.org/10.1038/s41573-021-00337-8

Ussher  JR.  Drucker DJ. Glucagon-like peptide 1 receptor agonists: cardiovascular benefits and mechanisms of action. Nature Reviews Cardiology. https://doi.org/10.1038/s41569-023-00849-3

Gostou do conteúdo? Compartilhe!

Continue lendo para conquistar uma vida saudável e feliz: